NOS apresenta Comic Con Portugal 2019


Introdução

Foi nos passados dias 12, 13, 14 e 15 de Setembro de 2019, que se realizou em Lisboa o evento “NOS apresenta Comic Con Portugal 2019”. Com um patrocinador principal de peso, a NOS, e uma mudança de nome, podermos pensar que poderá ser efectuada uma mudança no evento para melhor, no entanto o alinhamento de convidados e a altura da sua apresentação ao público, faz com que se possa já desconfiar um pouco da organização da organização, para reforçar este ponto temos o programa disponibilizado quase de véspera e alterado durante o evento, assim como o conteúdo do mesmo que nos leva a pensar que o evento é um festival de Verão com Cultura Pop em vez de ser um evento efectivo de Cultura Pop, mais precisamente de Comics.
Este evento é neste momento o maior evento de Cultura Pop em Portugal, e podemos dizer que pelos números de visitantes e área de evento será possivelmente um dos maiores do mundo, no entanto maior não quer necessariamente dizer melhor, como vamos ver à frente na análise.

Espaço

O evento decorre no Passeio Marítimo de Algés, um espaço aberto e ao ar livre com uma área bruta de mais de 50.000 metros quadrados, dos quais apenas uma estreita tira de 30 metros por 100 metros está arborizada e fornece alguma sombra.
Este ano o evento decorreu em várias tendas de grandes dimensões que se encontravam dispostas de maneira a formar um enorme espaço central que, apesar de bom para circular, carecia de protecção contra o Sol.
A área de restauração encontrava-se no único local com sombra, sendo que as rulotes que lá se encontravam ocupavam metade dessa área, ficando o resto ocupado com mesas que se encontraram cheias durante quase todo o dia.
É de notar que este é o único evento do género, no mundo, a decorrer no verão num espaço aberto e em tendas, adicionando ao facto que estamos em Portugal onde o mês de Setembro pode ser especialmente quente ou chover a cântaros, estamos com um cenário onde tudo pode correr potencialmente mal, mas isso será analisado na próxima secção.

Áreas do evento

Como dito anteriormente o evento decorreu dividido entre tendas e ar livre, vamos ponto por ponto analizar cada uma das áreas.

Auditórios

Os auditórios eram 4 que assim se possam chamar, o Auditório Spotlight, Golden Theatre, Prime Theatre e The One Theatre, podiam ser os Auditórios 1 a 4 ou Principal, 2, 3 e 4, mas esta nomenclatura com adição de espaços com o nome Stage no fim promovem por um lado uma certa confusão e, por outro, dá ao público incauto uma sensação de profissionalismo na organização, que acaba mesmo aí.
Mas adiante, os auditórios eram 4, sendo o Golden Theatre o maior, com capacidade para 2000 pessoas, cerca de metade da capacidade do maior auditório aquando das edições na Exponor e claramente insuficiente para uma enchente do evento com foco num determinado convidado.
A gestão destes espaços foi também extremamente mal feita, não se cumprindo a regra de que todo o público tem que abandonar o auditório no fim de cada painel/actividade, isto levou a abusos por parte do público, no entanto estes só existiram por culpa da organização (ou falta dela).
O ponto positivo nos auditórios é que eram os únicos espaço climatizados e onde se podia descansar um pouco as pernas.

Palcos

Parece estranho estar a diferenciar palcos e auditórios, no entanto essa distinção tem que ser feita.
Estes eram três, o Esports, Split Screen e Music Stage, apesar de haver um espaço chamado VIP Stage, este não era um palco, mas sim uma zona de autógrafos, mais uma vez a nomenclatura a servir mais para confundir do que clarificar.
Estes três palcos encontravam-se em duas situações distintas, enquanto o Music stage tinha uma cobertura de tenda só para ele, e dava naquela zona alguma sombra até cerca das 16:00 onde os artistas ficavem com o Sol directamente na cara, mas como um bom palco de concerto, para assistir era ou de pé ou sentado no chão; por outro lado o Esports e Split Screen estavam dentro da tenda dedicada ao Gaming com tudo o que isso implica.
Escusado será dizer que estes espaços não tinham qualquer tipo de climatização a não ser umas ventoinhas que apenas refrescavam quem estava em frente às mesmas.

Zonas de Autógrafos

Eram 3 as zonas de autógrafos, New Media, Comics e Literatura e VIP Stage, mais uma vez tendas com uma porta larga aberta para o exterior que torna qualquer climatização do espaço impossível, no entanto ter os espaços fechados tornaria qualquer tipo de fila impossível, por isso é uma situação em que não se pode ganhar.
Destes espaços visitámos apenas um que foi o de Comics e Literatura em que, apesar de vazio, estava organizado de forma irreal; em primeiro lugar os autores não tinham absolutamente nada que os identificasse, algo que é norma em qualquer lado, em segundo lugar a tentativa de climatização do espaço estava tão mal pensada que 3 autores estavam a lutar para não pingar suor para cima de comics, livros e sketchbooks, enquanto um quarto estava na iminência de apanhar uma pneumonia com um ar condicionado industrial directamente virado para ele. Podemos adicionar a isto uma responsável muito pouco calma e nada civilizada ou educada para com os visitantes e voluntários.
Verificámos no entanto que as equipas de gestão de vários espaços que vinham desde a primeira edição, não estavam no local. Ao que apurámos as mesmas foram afastadas do evento este ano.
Mais uma boa decisão de uma organização que não acerta uma.

Photobooth

Não visitámos esta área e não temos quaisquer informações sobre a mesma.

Kids

Mais uma tenda, mais uma tenda aberta, mais uma tenda sem climatização e toda aberta para o exterior.

Área de Cosplay

Esta área era mais uma tenda aberta e sem climatização com a disposição possível para o espaço cedido, que deveria ter sido maior segundo um mapa preliminar.
Pelo que vimos e pelo que nos foi relatado por outros colaboradores da Universo 42, o espaço, no entanto, foi extremamente bem gerido, apesar das limitações que partiram da organização principal do evento e que impediram que algumas actividades decorressem da melhor forma, no entanto decorreram da melhor forma possível. Neste aspecto damos os parabéns à coordenadora Angélica Diana pelo excelente trabalho.
No entanto de um evento em que o dono faz tanta questão de frisar o quão importante o Cosplay é, espera-se claramente mais e melhor em termos de espaço, condições, etc.

Gaming

A Área Gaming teve uma tenda própria, sendo que a mesma, como a maioria das outras, não se encontrava devidamente climatizada. O calor que se fazia sentir era menor do que no Geek Market, no entanto continuava a ser um espaço desconfortável.
Nesta tenda encontravam-se os palcos Esports e Split-Screen, um com configuração de auditório, e outro como um palco de concerto sem lugares sentados, nos mesmos decorreram uma série de torneios e Esports.
No que diz respeito a conteúdos, esta área acabou por ser das melhores servidas, com alguns jogos que ainda não estão no mercado, para experimentar e muita variedade de conteúdos para todas as plataformas de jogos digitais.

Geek Market

Apesar de haver apenas uma tenda assinalada como Geek Market, e sendo este um espaço que junta lojas, artistas e até grupos informais, o facto é que este estava espalhado por uma tenda principal mais 2 ou 3 tendas mais pequenas e umas quantas lojas espalhadas na zona. Tudo isto sem um critério ou organização definida, visto que a tipologia de ocupantes não era consistente.
Em termos de condições a tenda principal era a pior de todo o evento, com um calor húmido absurdo em que visitantes e lojistas suavam profundamente durante a sua estadia no espaço.
Além disso mais uma vez os corredores curtos e pouco largos não permitiam a melhor circulação no espaço.
As outras tendas estavam um pouco melhores, porque estando mais abertas estavam quentes, mas sempre havia circulação de ar.
A tenda da Fnac era a única que estava climatizada, sendo que mantinha a temperatura devido a uma politica de ter sempre a tenda fechada e ser necessário abrir uma porta para entrar.
Era no espaço comercial que se encontrava a zona de jogos de tabuleiro, sem sinalética nenhuma, era mais uma tenda com lojas, onde estas se encontravam a dinamizar demonstrações de jogos de tabuleiro da forma possível. Mais uma vez a climatização era inexistente e a zona de demonstrações era a mais quente da tenda pois tinha que estar protegida dos ventos fortes que se faziam sentir ao fim da tarde.

Restauração

A área de restauração teve alguns aspectos que foram novidade este ano. Boas novidades? Nem por isso e passamos a explicar.
Além da maioria das rulotes presentes na área não estarem preparadas para a afluência de público com rupturas de stock às 14:00, isto não é problema da organização. No entanto o facto de terem proibido as bancas de comida de vender bebidas, sendo que as mesmas estavam a ser exploradas pela organização, já é. Adicionalmente estes espaços de venda de bebidas eram apenas 3 para o evento todo e com staff claramente inexperiente e insuficiente. No evento que se realiza no verão em espaço aberto, sujeitar o público a ter que estar 2 horas para comprar uma garafa de água é no mínimo imoral, senão mesmo irresponsável; isto poderia ser minimizado se as torneiras que existem naquela zone estivessem a funcionar, no entanto as mesmas estavam todas com os manípulos retirados.

Espaço aberto

O que dizer, era isso mesmo, um espaço aberto, sem sombra, sem bebedouros, caixotes do lixo insuficientes e sem áreas de descanso. Enfim, sem condições.
Neste espaço estavam as bancas de alguns patrocinadores com actividades promocionais de activação de marca.

Actividades

Este é dos poucos aspectos positivos de um evento em que, mesmo assim, se esperava mais e melhor.
Desde os tradicionais painéis, torneios de E-sports, actividades e workshops fornecidas pelo evento em si, até concursos e algumas actividades proporcionadas pelos patrocinadores nas suas bancas, tivemos de tudo um pouco, no entanto ter o mesmo workshop repetido 3 vezes por dia é capaz de não ser a abordagem mais positiva para um evento desta dimensão. Além disso os espaços para as actividades estavam todos claramente subdimensionados para o número de pessoas admitidas no evento ou não tinham as condições para que as mesmas se realizassem da melhor forma possível.
Faltou uma sala fechada e climatizada para os workshops de Cosplay, que decorreram atrás de uma cortina na tenda que tinham dedicada, com todo o ruído que decorria em volta; noutras áreas o workshops nem dessa cortina beneficiaram.
Um ponto positivo nas actividades prende-se com o concurso de Cosplay, este ano realizado de forma muito mais profissional do que em anos anteriores, claramente fruto da mudança de gestão, no entanto parece-nos que o horário do mesmo veio impedir que tudo o que envolve esta actividade, decorresse da melhor forma, ou pelo menos da forma idealizada. Esta é mais um falha da parte da organização principal, de comunicação pré evento, ou ambas.
A tenda de gaming proporcionou o maior leque de actividades, com muitos jogos para experimentar e até algumas novidades ainda não lançadas, claro que os pontos mais interessantes tinham filas, mas isso já seria de esperar, no entanto não tivemos conhecimento de queixas na gestão de filas nesta zona do evento, fruto possivelmente desta zona estar principalmente a cargo dos promotores das diversas plataformas e editoras.

Convidados

Este é um ponto controverso, no entanto, analisando de forma fria e comparando com outros eventos do género por esse mundo fora, podemos concluir que o leque de convidados foi extremamente curto em quantidade e qualidade, para um evento que tem um valor de bilhete que ronda os 30€ diários.
Os convidados de Cinema e TV não se pode dizer que são maus ou irrelevantes, no entanto os dois convidados que podiam trazer mais pessoas foram anunciados 2 ou 3 dias antes do evento, algo que é mais um exclusivo deste evento português. O valor dos autógrafos e fotos estava na média para estes eventos, principalmente verificando os valores noutras convenções para os mesmo convidados, com excepção da Millie Bobby Brown que estava bastante mais barata.
Na área de BD e Literatura, temos a dizer que misturar ambos no mesmo saco para parecer que se tem muitos convidados é pouco honesto. O nome do evento é Comic Con, não é a Feira do Livro e quando metade dos convidados eram de literatura, o facto é que pareceu mais uma Feira do Livro do que uma Comic Con. Relativamente à qualidade/relevância dos convidados desta área, esse é um aspecto mais pessoal e varia, mas as filas vazias para os autógrafos falam mais do que podemos aqui escrever. Se calhar no futuro apostar em 4 ou 5 nomes com portfolio mais variado poderia ser positivo.
De resto a Comic Con anuncia sempre centenas de convidados, no entanto não podemos considerar todos os membros de uma orquestra como convidados. Outro aspecto é o lugar que bandas, standup Comedy ou Youtubers têm num evento que vai buscar o nome à maior convenção de Comics, Cinema e TV relacionados com Comics e fantasia do mundo.

Avaliação final

Numa escala de 1 a 10 damos a este evento um 4 e apenas por alguns convidados de qualidade que apresentou, assim como a simpatia dos mesmos. Outro factor que fez subir a nota foi o extremo profissionalismo e trabalho incansável da equipa dos Heróis do Cosplay liderada pela Angélica Diana, assim como o facto que sempre deu para estar com algumas pessoas conhecidas.
Um evento desta dimensão não se pode dar ao luxo de não entregar um mapa como deve ser com um directório de lojas e um programa detalhado à entrada, é algo básico em qualquer evento.
A organização geral foi inexistente, com queixas desde os visitante aos lojistas, passando pelos convidados; queixas de falta de comunicação, voluntários que pouco sabiam o que estavam a fazer e menos sobre o evento, chefes de zona que claramente arranjavam problemas onde estes não existiam, um app que continua a funcionar mal, alterações ao programa a dias do evento e até já depois do evento estar a decorrer, mau dimensionamento dos espaços, falta de condições básicas para os visitantes, tudo isto demonstra um amadorismo que roça o ridículo; agora podia-se dizer que é a primeira edição, mas o facto é que é já a 6ª edição deste evento que cada vez tem menos de Comic Con e mais de Feira da Aldeia misturada com Festival de Verão, com 6 anos de aprendizagem há aspectos que se tornam intoleráveis a nível de organização e planeamento do evento.
No entanto o mais imperdoável é o desrespeito pelos visitantes que pagam uma fortuna por um evento que não o merece.


A Universo 42 não está de forma alguma afiliada aos eventos que analisa, sendo que as análises são sempre ser o mais imparciais possível, no entanto baseiam-se nas experiências dos nossos enviados e por isso podem diferir de experiências pessoais de outros visitantes.

Author: Gonçalo Ribeiro

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